Cabra-Cega – 2005

Ao assistir a inquirição do Senador Agripino Maia (DEM) à Ministra Dilma Rousseff, ouviu-se instigá-la a falar a verdade, pois, segundo ele, Dilma já havia mentido anteriormente. Maia relata um depoimento sobre o período da ditadura: “… a prisão [fala Dilma] é uma coisa em que a gente se encontra com os limites da gente. É isso que às vezes é muito duro. Nos depoimentos a gente mentia feito doido, mentia muito…” A ministra, diante da provocação, responde que: “qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira… fui barbaramente torturada… e quem ousar dizer a verdade para seus torturadores compromete a vida de seus companheiros.” Esse depoimento remeteu-me ao filme Cabra Cega. Nele é retratado o momento em que a guerrilha urbana começa a ser desmantelada pelo regime de exceção, com traições, prisão, tortura e morte de militantes. Tiago (Leonardo Medeiros), após uma ação frustrada, é mantido escondido e incomunicável em um apartamento, seu único contato com o mundo é através de Rosa (Débora Duboc). Esses dois relatos enviam-nos, inquestionavelmente, à obra de Jean Paul Sartre, Entre quatro paredes (1945). Onde três pessoas vão parar no inferno (não o inferno cristão com demos, fogos, etc.). Ali eles não têm necessidade de se alimentar, de dormir; impossibilitando-os de expiar as suas faltas. Com o passar do tempo começam a desnudar-se perante o outro. A consciência não pode furtar-se a enfrentar a outra consciência. Daí a famosa frase: “o inferno são os outros”. “Outros” são aqueles que de forma consciente, ou não, revelam de nós a nós mesmo.

 

Ficha Técnica

Título Original:  Cabra-Cega

Tempo de Duração: 170 minutos

Ano de Lançamento (BRA): 2005

Direção:  Toni Venturi

 

Filme