ATO I. Badlands (Terra de ninguém, 1973). A inocência do mal. A primeira obra de ficção de Terrence Malick, Badlands (Terra de ninguém na tradução brasileira) já mostra um fascínio pelo que, em termos filosóficos tradicionais, se pode chamar a “questão do mal”. Mas a saga de Kit (Martin Sheen) mostra uma espécie de inocência do mal espontâneo e puro, intensificado pelo relato despojado e evocativo de Holly (Sissy Spacek), a sua súbita namoradinha.
Apesar de matar pelo menos meia dúzia de pessoas (ele perde facilmente a conta), Kit não é realmente um delinqüente, um matador, um sádico, apenas um existente vazio e autêntico, profundamente apaixonado por Holly (nunca a agride, nem mesmo quando ela o deixa bravo). O rapaz vai vivendo todas essas destruições numa espontaneidade atormentada e gratuita. O “mal” está aqui à solta, mas há algo de sublime nele. Toda a história é vivida como uma espécie de história de amor onde as mortes violentas são como vicissitudes coadjuvantes; nada de essencial.
O termo Badlands alude a uma peculiar formação da natureza que metaforiza o particular ânimo, frio e colorido ao mesmo tempo, em que os acontecimentos vão se sucedendo; alude-se à paisagem desértica que Kit e Holy atravessam, mas também a seus espíritos agrestes, secos, áridos, solitários, devastados, espíritos Badlands, terras humanas rejeitáveis, virgens, sem plantios, sem culturas, baldias. Malick era, naquela época, um explorador desta peculiar paisagem humana, inocente e destrutiva. Não havia aqui nenhum olhar externo ao que era mostrado; pura condição humana crua e sem comentários. O filme mesmo era inteiramente áspero, totalmente badland.
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